No ponto
Cadu Corrêa
Boa noite - ela disse e calou-se sentando pra esperar
E o rapaz ao seu lado notou que ela usava um vestido bonito
Branco e lilás. Então pensou - Onde ela vai eu vou atrás
Seus cabelos cobriam seu rosto ela era tão tímida
E o rapaz, ele mal disfarçafa que olhava direto pra ela
Sem nem piscar, sempre a pensar - Onde ela vai eu vou atrás
De repente, num gesto contido, ela aponta pro circular
E o rapaz esperou ela pegar a bolsa e arrumar o cabelo
Para embarcar e então pensou - Se ela vai eu vou atrás
Ele nunca foi muito impulsivo mas não pode evitar
Pro rapaz tanto fez se o ônibus dela iria pra China,
pra Alcatraz ou Bagdá - Onde ela vai eu vou atrás
Vem pra rua brincar
Cadu Corrêa
Vem pra rua brincar
Vem ser criança e correr
Brincar de pega e ganhar
Chegar primeiro e vencer
Vem viver (vem ver, vem ver)
Venha ver que o vento é lilás
Colher flores para um buquê
Dar mil cambalhotas pra trás
Como aquele herói da tevê
Vem pra rua brincar
Vem bater pique e viver
Ver a tarde passar
Sem piscar nem se mexer
Vem viver (vem ver, vem ver)
Corre lá na rua de trás
Chama todo mundo pra ver
Como ser criança é demais
Até bem depois de crescer
Agora eu tô voltando
Cadu CorrêaSim, eu sei da dor de estar
Esperando por quem? Esperando voltar
Sim, eu sei do nó que dá
Do aperto de engasgar, vontade de gritar
Não ter o que fazer do amor
Que nunca pode entregar
pra quem partiu sem avisar
Mas espera eu tô chegando
Perdoe a demora e a falta que eu te fiz
E as mágoas que causei
Agora eu tô voltando
E vai secar o pranto
A dor já vai passar
E seja como for você irá sorrir
Esqueça de mim
Cadu CorrêaEsqueça de mimDos momentos que a gente viveuDos castelos que o amor ergueu pra ver cair
Esqueça de mimDo futuro que não vamos terSe você fez questão de perder o meu amorDesfaz o que eu fizE esqueça quem sempre te amouQuem tudo o que tinha entregou só pra vocêEsqueça de mimSe o que eu fiz foi em vão, se foi pura ilusãoSe eu não tenho perdão por te amarEsqueça de mimSe não pode cuidar do que eu dei pra vocêDo que eu construí pra nós dois
Esqueça tambémO que um dia sonhou sempre ganhar de mimSem nunca merecer. Pode crer
E esqueça por fimDos segredos que nós nem chegamos a terAo deixarmos os nós por fazer
De tanto andar o seu tênis furou
Cadu CorrêaDe tanto andar o seu tênis furou.O pé tocou o chão. Sem opção ele lançou,Com as próprias mãos com os próprios pés,
A sua sorte rumo ao cais. Ele tomou a embarcação pra Trinidad.
De tanto achar que não dava mais pé,De tanto comer o pão que o diabo amassouCom as próprias mãos com os próprios pés,
Ele ergueu o olhar pro céu, olhou pra si e viu que estava ao Deus Dará.
Mas percebeu reclamar era em vão.Ele então se conformou e fez das tripas coraçãoCom as próprias mãos com os próprios pés.
Também jurou não se abalar e fez de tudo para não perder a fé.
Perder a fé.
Perder o chão.
Perder a mão.
A direção.
E ao coração que vai ficar
Quem é que vai dizer que não?
De tanto andar o seu tênis furou.O pé tocou o chão. No fim foi bom, pois alcançou,Com as próprias mãos com os próprios pés,
A sua sorte e muito mais e tudo isso sem nunca perder a fé.
Perder a fé.
Perder o chão.
Perder a mão.
A direção.
E ao coração que vai ficar
Quem é que vai dizer que não?
Cada
Cadu Corrêacada um saiba de sicada qual com a sua dorcada sim com seu porémcada quem onde coubercada olhar em cada olharcada mão em cada mãocada beijo, um beijo teuum por vez, agora o meucada amor, um amor maioreu cada vez mais só quero te dar um beijocada beijo me traz pazeu quero muito mais que simplesmente um beijocada coisa em seu lugarcada canto, escuridãocada santo em seu altarcada peito um coraçãocada língua um paladargosto que se apaga nãocada beijo, um beijo teuum por vez, agora o meucada amor, um amor maioreu cada vez mais só quero te dar um beijocada beijo me traz pazeu quero muito mais que simplesmente um beijosua voz um verso meuouvir você dizer é o que mais desejonosso amor na contra-mãomuda de opinião fluindo como um Tejo
Se eu quiser fugir
Cadu CorrêaSe eu quiser fugirVem me segurarAperta minha mão e me abraça'Que, na verdade, eu tenho medoMe proteje de mimE do pior que é ficar longe de vocêAperta minha mão e me abraça
'Que, na verdade, eu tenho medoMe cede sua calmaPois a certeza ninguém temE ninguém sabe se é bomVamos cantarDescompassar de alegriaVamos errar, sair do tomEu já não moro mais aquiEntão me leva com vocêPra onde quer que você forPra onde formos nos perderEu quero esquecer em que ano estamosE se alguém me perguntar que horas sãoEu respondo com um sorrisoE tanto faz...
Tão singular
Cadu CorrêaDói amor, dói amarDói dançar assim sem parDói dormir e acordarDói de não poder gritar
Dói no pão, dói no cháDói a dor tão singularDo tendão até a lombarDói demais a vida
No sertão, dói no marDói no vão, no espaldarDói no "não", dói no "já"No que foi, no que virá
No pulmão ao respirarDói a dor tão singularDo dedão à jugularDói demais a vida
Desde aqui a Shangri-láDói a dor tão singularNa solidão de esperarDói demais a vida
Linda menina
Cadu CorrêaLinda menina, você,ouça o que eu vim lhe dizernessa canção que nasce em mimmas se completa em vocêNenhuma nota em vão,mesmo que eu saia do tomVocê concerta, me desconcerta,fácil como fosse um dom
Outra menina não hácanção igual não vai terDança e segredo, espantar o medoSó você sabe fazerVoz e orquestraolhar de festasons de dizercomo são
As manhãs do amanhãsonhos que ainda virãoGota de orvalho na flor em botãotraz o teu sol de verão
Dança e segredoespantar o medoSó você sabe fazer
Forçando o ruim
Cadu CorrêaDiz que já não vai quando mais se quer partir
Faz que já não quer o que mais deseja ter
Pra quê ser assim, forçando o ruim?Me diz, pra quê mentir pra si?
Decidir falar quando se precisa ouvir
Preferir calar tendo tanto pra dizer
Pra quê ser assim, forçando o ruim?Me diz, pra quê mentir pra si?Evitar correr quando há pressa em chegar
Não chegar mais perto por medo de se entregar
Pra quê ser assim, forçando o ruim?Me diz, pra quê mentir pra si?Não meter as mãos tendo muito o que fazer
Fugir do encontro quando queria abraçar
Pra quê ser assim, forçando o ruim?Me diz, pra quê mentir pra si?